domingo, 19 de novembro de 2017

Superproteção e Piper


Um adorável passarinho é o personagem principal do curta de animação "Piper" (vencedor do Oscar de melhor curta de animação ) que estreou junto com o filme "A Procura de Dory" em meados de 2016. Este encantador bichinho é mostrado na tela como um filhote que vai conhecer com sua mamãe a prática de encontrar comida. Só que, como todo bebê, quer tudo facilzinho, que chegue o alimento na sua boca, ou melhor, no seu bico, e é aí que sua pequenina aventura de pouco mais de 5 minutos começa: Piper vai enfrentar os obstáculos que faz parte de crescer. E essa imagem nos remete naturalmente aos pequeninos dos quais cuidamos.


Todos nós já ouvimos falar sobre a super-proteção, o excesso de cuidados e até mesmo   o excesso de super-proteção (!?). Mas é possível que a maioria de nós pensou : "com certeza" eu não era super-protetor com meus filhos. Mas acontece que, como no filme animado, chega uma hora em que as o crianças precisam dar seus próprios passinhos (ou passos mesmo) em direção a alguma autonomia, depois a uma autonomia mediana até por fim, ter total autonomia para viver, o que para muitos familiares (pais principalmente) é bastante assustador. 

Tememos uma série de perigos a que nossos filhos ficarão expostos, seja se machucar nas brincadeiras, ou ficar doente sem nossa proteção e cuidado por perto, ou quando vão sair para outro lugar que não é nossa casa e nos apavoramos com duas dúzias de medos e preocupações. Só que as crianças crescem, e quer gostemos ou não, enfrentarão a vida "lá fora". Portanto, quanto mais as super-protegemos, mais elas ficarão vulneráveis às vivências que serão parte integrante de suas vidas.


Os especialistas nos alertam que a super-proteção pode causar sérios problemas para as crianças e seus pais, além de prejudicá-la psicologicamente. Uma destas consequências é resultar numa pessoa intolerante, sensível demais às frustrações, com insegurança acima do necessário,  dependente em tudo ou manipuladora (usando as pessoas para seu benefício). É natural que, ainda bebê, - pequenina - a criança precise de muito zelo e atenção redobrada. Mas aos poucos, ao começar a andar e a falar, ela já pode receber uma educação que vá introduzindo o auto-controle e segurança sobre certas situações e fatos do seu cotidiano. Prendê-la em grades invisíveis ou numa bolha, certamente não fará bem a ela. 



psicóloga e professora de psicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Vera Zimmermann aponta três considerações: 

1"O bebê precisa ser convidado a perceber que o outro está separado de si e não é sua propriedade";
2 - "É preciso desenvolver um outro ser humano que terá suas diferenças e um dia viverá separado dos pais, tendo que enfrentar o mundo com as ferramentas que adquiriu dentro da sua família";
3- "Super-protegida, a criança torna-se incapaz de enfrentar as dificuldades ou lidar com as frustrações",

                         


Muitas mães, angustiadas e sentindo-se culpadas por deixar as crianças para ir trabalhar, costumam compensar sua ausência ao encontrar a criança, com mimos excessivos ou extrema permissividade. Outro argumento para a super-proteção é a violência exacerbada do cotidiano, o que faz os pais e cuidadores planejar um organograma de precauções  de segurança exagerado, com aparelhos eletrônicos de vigilância, motoristas (se não for os próprios pais) para levar a todo lugar, monitoramento por mensagens de 15 em 15 minutos pelos smartphones, dentre outros. Segundo os estudiosos, estas atitudes fazem com que a maturidade da criança seja adiada, às vezes até ser tarde demais.


Vejamos o que podemos fazer pelo amadurecimento das crianças:

1-  Evite fazer tudo pelo seu filho;
2-  Não compense sua ausência com excesso de zelo;
3- Não hipervalorize pequenos acidentes;
4-  Exponha seu filho (visitar avós, tios, colegas, ir a festinhas);
5-  Dê responsabilidades compatíveis com a idade;
6-  Converse com seu filho sobre suas frustrações.


Como a mãe de Piper no curta de animação, temos que nos esforçar para ajudar nossos filhos no processo de aquisição de autonomia, prepará-los para a vida com as melhores ferramentas que temos, deixar que a maturidade emocional, psicossocial e física os alcance , sem medo de perdermos nossos pequenos, mas os alimentando com auto-confiança para gerir a vida que se abre para eles, estando perto mas a uma certa distância, amando muito mas dando amor  "suficiente", sem sufocá-los ou torná-los bibelôs frágeis prestes a quebrar com qualquer tropeço. Eles próprios terão suas angústias e fragilidades e basta a eles saberem que  nós estaremos ali, para confortá-los, apoiá-los e amá-los, sempre que precisarem. 










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